Monthly Archive for June, 2011

Um Manual para saber pontuar bem o discurso

De “Pequeno” no nome (assim intitulado em comparação com os rombudos manuais dedicados ao assunto), na verdade se converte, pela propriedade das exemplificações e conhecimentos oferecidos, em auxílio enorme para quem deseja saber como pontuar bem o discurso escrito. Nos referimos ao Pequeno Manual de Pontuação em Português, escrito por José Augusto Carvalho, cujos links para o seu conteúdo indicaremos aqui, segundo a sua disponibilização em nove partes, veiculadas na revista online Cronópios. É trabalho que revela desde as primeiras linhas a experiência ímpar e multifacetada do seu autor no universo da língua portuguesa.

O autor, mestre em linguística pela Universidade Estadual de Campinas e doutor em letras pela Universidade de São Paulo, lecionou durante quatro décadas na Universidade Federal do Espírito Santo. Além do magistério, e da autoria de livros paradidáticos e didáticos (Aprendendo a ler, Por uma política do ensino da língua, Do pensamento à palavra, dentre outros), escreveu romances (A ilha do vento sul Candaína), contos (Órfã de filhaO braço e o cutelo A fama e a cama) e crônicas (Entre a cruz e a caldeirinha Pedagogia da trapaça). Paralelamente, veio se dedicando ainda à tradução, a partir do francês, inglês e italiano.

Para ter acesso ao conteúdo do Manual, basta clicar em cada link a seguir:

– Parte I:   Palavras prévias e Introdução

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4971

– Parte II:  Gramáticos versus Escritores

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4979

– Parte III: O Ponto no texto e o Ponto nas abreviaturas

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4988

– Parte IV:  Vírgula

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4997

– Parte V:   Ponto e vírgula, Interrogação e Exclamação

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5012

– Parte VI:  Reticências, Parênteses e Travessão

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5016

– Parte VII: Barra oblíqua, Colchetes, Parênteses quebrados ou angulares

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5026

– Parte VIII: Chaves, Aspas simples e duplas, Pontuação intravocabular, Asterisco

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5037

– Parte IX:   Palavras finais

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5057

O Manual poderá ser adquirido em versão impressa editada pela Thesaurus.

 

Quem dá as cartas sobre o que a gente quer e pode com nossa Língua?

Quem, no Brasil, seria o legislador máximo sobre a nossa, inculta e bela, última flor do Lácio, ou quem deveria dar as cartas sobre o atual estágio de nossa modalidade de Latim em pó? A discussão volta à tona no país.

Em meados de maio, a Academia Brasileira de Letras-ABL, sem indicar exatamente a quais livros estaria se referindo, através de nota oficial ensejadora de polêmica que perdura na imprensa e demais meios de comunicação, emitiu alarme relativamente a obras didáticas, postas em ampla circulação pelo Ministério da Educação-MEC, que seriam detratoras do ‘padrão’ desejável para o ensino da língua.  A nota oficial da Academia foi divulgada em seu site dias após. Eis o seu conteúdo:

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11763&sid=727

O estopim da polêmica foi Por uma vida melhor, obra editada pela Global. Trata-se de livro escrito por vasta equipe pedagógica multidisciplinar, concebido para um programa de Educação de Jovens e Adultos-EJA. O programa tem como foco um público que não obteve acesso à escola durante os tenros anos da infância. A obra integra a coleção “Viver, Aprender” da mencionada editora. Sua concepção vem a ser uma das iniciativas promovidas pela ONG Ação Educativa em prol da educação como meio de inclusão social.  Com o intuito de distribuí-lo gratuitamente aos estudantes do EJA nas escolas públicas, o livro foi adquirido com fundos do Programa Nacional do Livro Didático-PNLD, um dos pilares de ação do governo federal dentro da estrutura do Ministério da Educação.

Capa do livro adotado pelo Ministério da Educação e desaprovado pela Academia de Letras

A polêmica foi instaurada a partir do conteúdo de seu primeiro capítulo, intitulado “Escrever é diferente de falar”.

A partir do alarme acionado pela Academia de Letras, alguns viram nas afirmações e exemplos oferecidos nesse capítulo uma incitação a atentados contra o idioma. Os postulados linguísticos e as ilustrações de usos se baseariam em uma visão que preconizaria a expressão de um  –  como diz Roberto Carlos, na canção Detalhes, valorizando seus erros – “português ruim”.

“…Eu sei que um outro
Deve estar falando
Ao seu ouvido
Palavras de amor
Como eu falei
Mas eu duvido!
Duvido que ele tenha
Tanto amor
E até os erros
Do meu português ruim
E nessa hora você vai
Lembrar de mim…”

Discussão que sempre volta à baila, é por demais instigante conhecer a presente a fundo, para tentarmos, quem sabe desta vez, aguçar a consciência sobre preconceito linguístico, variantes linguísticas, padrão culto, dentre outros tópicos que importam a todos que nos dedicamos à língua portuguesa. Acompanhe no portal do Ministério da Educação, a partir de seleção que justificaria a decisão governamental da adoção de tal obra para o EJA, um status da polêmica por ordem das repercussões mais recentes. Dela já participaram, além do professor Ataliba de Castilho (que está também no vídeo, abaixo), outros nomes que lançam luz sobre o tema, como Dante Lucchesi, Sírio Possenti, José Miguel Wisnik e Carlos Alberto Faraco:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16649

Outro espaço que vem fazendo excelente acompanhamento da questão, e tomando partido pela visão defendida no livro, é o blog de Luisandro Mendes:

http://luisandromendes.wordpress.com/tag/mec/

E, por fim…

...
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas

Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda

Adoro nomes

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?


A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe a camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem

[Caetano Veloso, canção ‘ Língua’, dos álbuns Velô, de 1984, e Noites do Norte ao Vivo, de 2001]

 

Por que salvar uma Língua?

No número 55 da Revista Piauí, saído em abril de 2011, uma publicação que é também veiculada pela internet, Ricardo Sangiovanni informa sobre uma língua que a UNESCO declarara extinta, e quanto à qual atualizou sua avaliação para “criticamente ameaçada”. Trata-se do manx.

Nesse idioma, “quase não se usam pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele)”, pois “bem mais importantes são os do caso oblíquo (mim, te, ti)”. A par disso, “não existem os verbos ‘ter’ ou ‘saber’ – dois pilares das línguas (e da vida) no Ocidente.

Alguns exemplos eloquentes do idioma, mediante transposição ou tradução aproximativa ao português:

“Se um falante de manx, incomodado com os latidos de um cão desconhecido, for perguntar ao novo dono da casa ao lado ‘você tem um cachorro?’, dirá: ‘há um cachorro em ti?’ Ao que o incômodo vizinho responderá: ‘há um cachorro em mim’.

“‘Estou com fome não existe’. O certo é ‘há fome em mim’. ‘Estou com raiva’ é ‘há raiva em mim’. ‘Eu sei isso’ é ‘há conhecimento em mim sobre isso’.

“Não há como responder simplesmente ‘sim’ ou ‘não’ a questões simples. Então, quem pergunta ‘Você deu dinheiro a ele?’ diz, ao pé da letra, ‘dinheiraste nele?’. E precisa do verbo para entender a resposta: ‘sim’ é ‘dinheirei’; ‘não’ é ‘não dinheirei’.

“‘Eu te amo’, literalmente [é]: ‘há amor em mim por ti’.”

Foi durante um pioneiro Festival Internacional de Línguas na Grã-Bretanha que a singularidade e sobrevida do manx tiveram a sua mais recente repercussão mundial, graças à participação de um escritor de apenas 19 anos, Christopher Lewin, nascido e criado na Ilha de Man, situada entre o Reino Unido e a Irlanda, aonde um dia floresceu esse idioma, derivado do celta, e que foi a língua mais falada ali até o século XIX, e que quase se extinguiu quando a expansão industrial retirou a ilha de seu isolamento.

Conheça a tocante história da salvação (em andamento) de um idioma, lendo na íntegra o informe de Ricardo Sangiovanni aqui:

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-55/esquina/ta-graih-aym-ort

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