Archive for the 'Para tradutores' Category

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A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

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E deixa os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
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(Caetano Veloso, em “Língua”,
canção integrante do álbum Velô)


Última Flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, descuidada e obscura.
Tuba de alto canglor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
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(Olavo Bilac, fragmento do poema
“Língua”, em Poesias)


Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, “Fabricou Salomão um palacio…” E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes – tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é – não – a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d’aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.

Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente…

(Declaração, na ortografia da época em que viveu, feita pelo poeta Fernando Pessoa)


A civilização que vicejou na península ibérica, a partir de Portugual, difundiu-se geograficamente, impulsionando-se para a África, América do Sul e Ásia, e deixou marcas profundas principalmente em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste, onde o português é o idioma – em suas variantes locais – oficial.

Todos esses países vinham se reunindo desde 1989 com o objetivo de institucionalizar uma comunidade de nações dedicada não somente à difusão e valorização do idioma como também à cooperação internacional sobretudo nas áreas social, cultural e econômica. A Comunidade foi, enfim, criada, com sede inicial na capital portuguesa, em Lisboa.

Ela é constituída pela Conferência de Chefes de Estado e do Governo, Conselho de Ministros, Comitê de Concertação Permanente e Secretariado Executivo. Seu órgão máximo, a Conferência, se reúne periodicamente, no intervalo de dois anos. A última, ou oitava Conferência, ocorreu em Luanda, capital de Angola, em 23 de julho de 2010.

Os passos desse organismo multilateral podem ser acompanhados pela web no site da CPLP. Ao clicar no menu Plataformas, no cabeçalho da página, é possível acompanhar ou se informar sobre ações envolvendo desde a sua administração interna, até toda uma série de questões de interesse transnacional, relacionadas, para exemplificar algumas, com Cultura, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Correios e Telecomunicações, Desporto, Educação, Saúde, Migrações, Segurança e Defesa.

Dentre outras iniciativas de relevo, a CPLP, em parceria com a Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP), concebeu o Prêmio Fernão Mendes Pinto, que destaca anualmente uma tese de mestrado ou doutoramento que contribua para a aproximação entre as mais diversas comunidades de falantes do idioma.

http://www.cplp.org/

No site da Comunidade há uma seleção das principais organizações e serviços de referência, espalhados pelo mundo, em matéria de promoção e difusão do idioma e culturas em português, como é o caso do Instituto Camões.

O Instituto Camões difunde o idioma e culturas em português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
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(Fernando Pessoa, “Mar Portuguez”,
décimo poema em Mensagem,
fragmento com a ortografia original do poeta)

Dentre as grandes “empresas ultramarinas”, como as empreendidas sobretudo pelos espanhóis e portugueses (seguidas, e patrocinadas, em gigantesca medida pelos ingleses, e em menor amplitude pelos holandeses), que há cinco séculos propiciou um encontro ou choque entre povos em escala planetária, redundando na colonização européia das Américas, parte da África e Ásia, e de várias ilhas e da Austrália na Oceania, nenhuma delas deixou cristalizado – na tessitura literária de uma língua e no imaginário moderno que conflui barco e mar com o propósito de refundação de uma nação – um nome que supere o de Camões e desbanque a sua epopéia Os Lusíadas. Justamente por isso seu nome foi dado ao instituto criado por Portugal, integrado à estrutura do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país, com a missão de promover mundialmente a cultura expressada no idioma tido como a “última flor do Lácio”, ou seja, derradeiro dos rebentos do Latim.

Pelo site do Instituto Camões,  vê-se que a missão, além de bem materializada via web, é realizada mediante a manutenção de centros culturais e centros específicos para o ensino da língua espalhados em vários continentes, a adoção de redes internacionais de docência, a celebração de acordos culturais entre várias nações, a concessão de bolsas de estudo inclusive a cidadãos estrangeiros dedicados à lusofonia, o fomento à edição de traduções para outros idiomas de obras originalmente criadas ou publicadas em língua portuguesa, e a publicação da Revista Camões (também disponibilizada digitalmente), cuja editoração, iniciada em 1998, encontra-se interrompida com o número 19, saído em 2006.

Já foram temas da prestigiosa revista, que é acompanhada de resumos em inglês, francês e espanhol, após o número inaugural dedicado à lusofonia (investigação das identidades entre países, regiões, cidades, comunidades e pessoas falantes do português), a Revolução dos Cravos (marco da história recente de Portugual, por ocasião dos 25 anos do 25 de abril, em 1999), a personalidade e obra de José Saramago (assim que o escritor foi  laureado com o Nobel  em 1998), outras figuras ímpares da cultura e história portuguesa como o prosador Eça de Queirós, o cineasta Manoel de Oliveira e o governante Marquês de Pombal (cuja política teve crucial influxo no Brasil durante o período colonial, a exemplo de na  adoção obrigatória e única da língua portuguesa no meio educacional,  em lugar da mescla desta com idiomas nativos que era o modelo adotado pelos jesuítas). A publicação também abriu espaço para o boom da literatura hispano-americana nos Estados Unidos, e ainda para o significado e a magnitude da obra literária de brasileiros como Lygia Fagundes Telles e Carlos Drummond.  Chegou também a discutir o intercâmbio artístico em outras áreas, a exemplo de na arquitetura e no teatro, entre países de fala portuguesa. E ainda se dedicou a traçar um painel das relações especiais que Portugal manteve com o Marrocos.

A par da disponibilização no site do instituto de quase duas dezenas de exemplares dessa prestigiosa revista,  outros pontos altos desse espaço na web são o oferecimento de um noticiário vasto, diversificado (atualizado várias vezes mês a mês, acessável a princípio através de amostra com destaques exibida na própria página de abertura, ou em boxs de links logo abaixo, igualmente por meio da seção Encarte JL, após clicar em Edição na barra lateral à esquerda, ou pelo menu Notícias no cabeçalho) e a implementação do Centro Virtual Camões.

O instituto surgiu em 1992, é herdeiro de um legado de instituições anteriormente ciradas com objetivos afins, a primeira surgida desde 1929.  Continua sendo a principal organização atuante na promoção mundial do idioma. Produz de modo continuado, também via web,  uma diversidade impressionante de contéudos culturais e educacionais de qualidade. O conteúdo é concebido tanto para ser apreciado online quanto para ser obtido em formato digital e desfrutado desconectado. Encontra-se reunido no Centro Virtual Camões, aninhado no proprio site ou portal do instituto, onde pode ser consultado também por meio de biblioteca digital subdividida em áreas específicas do conhecimento para facilitar a pesquisa.

Através do Centro Virtual Camões, cujo ingresso pode ser feito na própria página inicial do site do instituto, é possíbel obter , indo, pois, até a biblioteca –  dentre amplo acervo de obras capitais para a compreensão da língua e cultura portuguesas –,  um exemplar digital da republicação de Os Lusíadas, contemplada com leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão, e apresentada por Aníbal Pinto de Castro.  A edição se constitui na melhor ajuda especializada para penetrar na epopéia e fruir com conhecimento afiado o rumor da língua de uma civilização ibérica no momento em que se projetava  para deixar suas marcas nas culturas principalmente de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe,  e Timor-Leste, países nos quais o idioma, em suas variantes locais, atualmente é o oficial.

Para quem ainda não se aventura em grandes viagens pelo oceano da literatura,  mas deseja ficar na crista das ondas desses mares dantes visitados por Camões, poderá ser instigante conhecer previamente a série de 12 poemas com os quais o poeta Fernando Pessoa, no livro Mensagem (obra de domínio público, de franco e farto acesso pela internet), retomou no século passado o tema das navegações portuguesas, isto é,  da grandeza ansiada por uma nação lançada às águas.

Como proveitoso exemplo do conteúdo produzido pelo instituto e oferecido através do seu Centro Virtual Camões, é imperdível conferir sua História da Língua Portuguesa em linha.

Instituto Camões - Portugal

http://www.instituto-camoes.pt/

história da língua portuguesa em linha

http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/index1.html

Alguns outros dentre os principais sites de organizações e de serviços de referência em matéria do idioma e culturas em português a conhecer através deste blog são os da Biblioteca Nacional Digital de Portugual, da Biblioteca Nacional Digital do Brasil, do Museu da Língua Portuguesa, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

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