No número 55 da Revista Piauí, saído em abril de 2011, uma publicação que é também veiculada pela internet, Ricardo Sangiovanni informa sobre uma língua que a UNESCO declarara extinta, e quanto à qual atualizou sua avaliação para “criticamente ameaçada”. Trata-se do manx.
Nesse idioma, “quase não se usam pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele)”, pois “bem mais importantes são os do caso oblíquo (mim, te, ti)”. A par disso, “não existem os verbos ‘ter’ ou ‘saber’ – dois pilares das línguas (e da vida) no Ocidente.
Alguns exemplos eloquentes do idioma, mediante transposição ou tradução aproximativa ao português:
“Se um falante de manx, incomodado com os latidos de um cão desconhecido, for perguntar ao novo dono da casa ao lado ‘você tem um cachorro?’, dirá: ‘há um cachorro em ti?’ Ao que o incômodo vizinho responderá: ‘há um cachorro em mim’.
“‘Estou com fome não existe’. O certo é ‘há fome em mim’. ‘Estou com raiva’ é ‘há raiva em mim’. ‘Eu sei isso’ é ‘há conhecimento em mim sobre isso’.
“Não há como responder simplesmente ‘sim’ ou ‘não’ a questões simples. Então, quem pergunta ‘Você deu dinheiro a ele?’ diz, ao pé da letra, ‘dinheiraste nele?’. E precisa do verbo para entender a resposta: ‘sim’ é ‘dinheirei’; ‘não’ é ‘não dinheirei’.
“‘Eu te amo’, literalmente [é]: ‘há amor em mim por ti’.”
Foi durante um pioneiro Festival Internacional de Línguas na Grã-Bretanha que a singularidade e sobrevida do manx tiveram a sua mais recente repercussão mundial, graças à participação de um escritor de apenas 19 anos, Christopher Lewin, nascido e criado na Ilha de Man, situada entre o Reino Unido e a Irlanda, aonde um dia floresceu esse idioma, derivado do celta, e que foi a língua mais falada ali até o século XIX, e que quase se extinguiu quando a expansão industrial retirou a ilha de seu isolamento.
Conheça a tocante história da salvação (em andamento) de um idioma, lendo na íntegra o informe de Ricardo Sangiovanni aqui:
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-55/esquina/ta-graih-aym-ort
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